Bernardino de Campos – Biografia
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Essa biografia foi pesquisada na página da Câmara de Deputados Federais, na Internet, acrescida de fatos noticiados, entre outros, em livros históricos, outras biografias de Bernardino de Campos e de seus contemporâneos, anais do Senado e da Câmara de Deputados, pelos jornais da época, e memória oral de familiares.
Bernardino José de Campos Júnior nasceu em 6 de setembro de 1841, em Pouso Alegre, Minas Gerais, onde seu pai fora designado como juiz e de quem levou o nome.
Fez o curso primário e parte do secundário em Campinas, SP, para onde a família se transferiu, quando ele ainda era criança. Terminou seu curso na cidade de São Paulo, no Colégio Julio, aonde foi preparar-se, para frequentar os Cursos Jurídicos.
Em 1858, matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo (Largo São Francisco), pela qual se bacharelou em 1863.
1874 – Convento da Ordem Franciscana dos Frades Menores e, doado por esses, o prédio da antiga Faculdade de Direito, hoje reconstruída, após incêndio,
Começou suas lides jurídicas, em Campinas, no escritório de seu pai.
Nessa cidade, casou-se, no ano de 1865, com Francisca de Barros Duarte, de Itu e, em 1866, nasceu Carlos, o mais velho de seus dezesseis filhos.
Um acontecimento chocante, o assassinato de seu pai, por ordem de um réu que perdera uma ação e a inércia das autoridades judiciárias em prenderem o mandante do assassino, fez com que, logo no ano seguinte de sua formatura, ele fechasse o escritório e concorresse a uma vaga de Promotor Público, em Amparo, SP.
Como promotor público, Bernardino de Campos, embora sem nenhuma experiência, demonstrou “ardor e tenacidade que os anais judiciários poucas vezes registram”, como assinalou Francisco Glicério. “Nessa fase de sua vida – são ainda palavras de Glicério – seus amigos notaram a mudança que nele operara a morte de seu pai, seguida da luta judiciária, perdendo a jovialidade que o caracterizava, para cobrir-se daquela melancolia, que nunca mais o deixou
Em Amparo, apegando-se à cidade, desligou-se da promotoria e abriu sua própria banca de advogado, na qual, além dos ricos fazendeiros, profissionais liberais e comerciantes da cidade, defendia de graça os pobres e os escravizados.
Naquela cidade, nasceram treze de seus dezesseis filhos, que ali estudaram.
Espelhando-se nos exemplos de seu irmão mais velho, Américo Brasílio de Campos, e cumprindo o acordo que fizera com os colegas republicanos, companheiros dos tempos de estudante nas Arcadas, tornou-se ativista das ideias Abolicionistas e Republicanas.
Foi eleito vereador por duas legislaturas.
Um dos fundadores, em Amparo, da Loja Maçônica Trabalho e do Clube 8 de Setembro, que tinham, como objetivo, arregimentar pessoas interessadas na Propaganda Republicana e na Abolição da escravatura. Essas instituições, estão abertas, até os dias de hoje.
Em uma reunião, em sua casa no dia 20 de dezembro de 1870, leu, para um grupo de amparenses, o Manifesto Republicano, que acabava de ser publicado, no jornal “República”, do Rio de Janeiro, produzido por Salvador de Mendonça, Quintino Bocaiuva, Joaquim Saldanha Marinho e seus companheiros.
Foi, nesse momento, que, com a assinatura de vinte e cinco dos participantes da reunião, fundou-se o Cube Republicano Paulista, que serviu de modelo para outros clubes, que, em seguida, foram fundados em diversas cidades paulistas.
Pouco tempo depois, o Clube, transformou-se no Partido Republicano Amparense, filiado ao Partido Republicano Paulista.
Museu de Itu – Participantes da convenção Republicana
Participou da famosa “Convenção Republicana de Itu”, em 1873, da qual, grande parte das cidades paulistas fizeram-se representar, para oficializar o Partido Republicano Paulista a fixarem seus princípios. Foi jornalista.
Em Amparo, em 1873, dirigiu, como propagandista da República, a Tribuna Amparense e, em 1881, fundou, com Peixoto Gomide, Muniz de Sousa e Antônio Bittencourt, o jornal Época.
Colaborou com muitos artigos nos jornais Correio Paulistano, Gazeta de Campinas, Província de São Paulo, Diário Popular. “Ia, a cavalo, pelos arredores da cidade – assim o descreve Cândido Mota Filho – e, transpondo as morrarias, entrava pelas fazendas e sítios, chegando aos municípios da proximidade, nos quais conseguira fama de ótimo causídico”.
E nessas viagens, às vezes longas duras, com sol excessivo ou chuva desoladora, proporcionava a fuga dos negros”.
Logotipo do Partido Republicano
Paulista
Em 1882 tornou-se membro da Comissão Permanente do Partido Republicano Paulista (PRP).
Em 1877 foi eleito, pela cidade de Amparo, deputado à Assembleia da Província de São Paulo, na vaga de Quirino dos Santos.
Em 1888 seu nome atravessou as fronteiras de São Paulo, ganhando repercussão nacional com a divulgação do “Manifesto de 24 de maio”, que pregava a Revolução e tinha, entre os seus mentores mais destacados, além dele, Horácio de Carvalho e Manoel Ferraz de Campos Sales.
Proclamada a República, foi nomeado Chefe de Polícia de São Paulo, tendo dado a esse cargo, nas palavras de Prudente de Morais, “prudente e criteriosa, justa e enérgica direção”.
Eleito deputado federal, em novembro de 1890, tomou parte no Congresso Constituinte de 1890/1891, como representante pelo Estado de São Paulo, e integrou a “Comissão Especial”, composta de 21 deputados e senadores para dar parecer sobre o “Projeto de Constituição” apresentado ao Parlamento pelo Governo Provisório do marechal Manoel Deodoro da Fonseca (AL).Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1891 Numa assembleia tumultuada por constituintes jovens e impetuosos, a atuação de Bernardino de Campos se caracterizou pela prudência, comedimento e realismo.
Nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal, não aceitou o cargo, preferindo continuar sempre vigilante e livre para poder criticar os erros do Governo, que já notara, os quais teriam consequências graves para a nascente República brasileira.
Em outubro de 1891 foi eleito presidente da Câmara de Deputados.
Nesse cargo, teve oportunidade de demonstrar tanto sua capacidade de comando como sua altivez e até sua coragem, pois a época era de constantes ameaças ao Poder Legislativo.
Essas ameaças tiveram seu desfecho no dia 3 de novembro de 1891, quando aconteceu o primeiro golpe de Estado do governo republicano.
Nesse dia, foi expedido pelo presidente da República, marechal Manoel Deodoro da Fonseca , o Decreto nº 641, que dissolvia o Congresso Nacional.
O decreto é inconstitucional.
Reação violenta contra o fechamento do Congresso Nacional, encabeçada por Bernardino, pela maioria parlamentar, pelo povo, integrados com os nomes mais expressivos da época, e pela Armada.
Apoiados pelos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, dá-se início a uma revolta na Baía da Guanabara. Greves e vários movimentos populares deixam a cidade em clima de guerra civil.
Diante dos fatos, o marechal Deodoro da Fonseca reúne o ministério e renuncia à Presidência da República.
Reaberto o Congresso Nacional, busca-se o consenso para a consolidação da frágil República. O marechal Floriano Vieira Peixoto, na qualidade de vice-presidente, recebe autorização do Congresso Nacional, para exercer a presidência da República, até o fim do quadriênio.
Em 1892, Bernardino de Campos é designado pelo partido, para concorrer à presidência do Estado de São Paulo, e é eleito em 18 de agosto de 1892 e empossado no dia 23. Exerce o cargo até o dia 15 de abril de 1896.
No ano de 1893, por ocasião da revolta da Armada, contra o marechal Floriano Peixoto, estando, presente no Forte Augusto, no momento em que um navio rebelde atirava sobre a cidade de Santos, Bernardino de Campos foi aconselhado por um de seus ajudantes de ordens, a abaixar-se, e respondeu com uma frase que ficou célebre: “São Paulo não se abaixa!” Frase suficiente para definir lhe a individualidade, como afirmou, por ocasião de sua morte, o Senador Pires Ferreira.
Como presidente do Estado de São Paulo, a sua ação teve três grandes orientações: o saneamento, a instrução e a defesa da legalidade.
Ficou célebre o telegrama que passou a Floriano a 15 de novembro de 1894, quando a luta parecia favorável aos revoltosos: “Dou e darei apoio à vossa autoridade, porque sois o poder legítimo”.
Recebeu o título de General Honorário do Exército Brasileiro, por sua atuação vitoriosa, na defesa de Santos e da cidade de Lapa, no Paraná, durante esse ataque da Armada Brasileira, comandada pelo revoltoso Almirante Custódio de Melo.
Foi eleito senador em 20 de julho de 1896 e exerceu o mandato durante quatro meses apenas, renunciando a 20 de novembro, para assumir a pasta da Fazenda, do governo de Prudente de Moraes.
Numa crise que parecia insolúvel, Bernardino de Campos promoveu entendimentos com os credores brasileiros de Londres e conseguiu o primeiro “Funding-loan” da República, em junho de 1898 – operação coroada de sucesso, que bastaria para consagrar um homem público.
A 15 de novembro do mesmo ano, tendo promovido a reabilitação financeira da Nação, considerou encerrada a sua missão na pasta da Fazenda.
Reeleito senador em 1900, fez parte da comissão encarregada de estudar o projeto de Código Civil e foi convidado por Rui Barbosa, presidente da Comissão, para dar parecer sobre o capítulo “Direito das Cousas”. Nesse trabalho, publicado em 1902, revela-se a sua cultura geral e especializada, dando ao exame técnico dos institutos da Posse e da Servidão a amplitude de um estudo jurídico-sociológico.
Em julho de 1902 renuncia ao Senado para assumir, pela segunda vez, a presidência de São Paulo.
Uma curiosidade: em 24 de janeiro de 1891, foi declarada sem efeito a nomeação do Dr. Bernardino de Campos para ministro do Supremo Tribunal Federal, feita por decreto de 12 de novembro do ano anterior, por não a ter aceitado o nomeado.
Com mais de 60 anos, sempre devotado à vida pública, sem nunca descansar, sente que precisa de repouso. “Seus olhos – escreve Cândido Mota Filho – acostumados a perscrutar as distâncias, firmes na observação dos fatos e na análise dos acontecimentos, pediam agora longo repouso. Moléstia terrível e minaz obrigava Bernardino de Campos ao uso de óculos escuros. O glaucoma assaltara-lhe uma das vistas e fazia-o sofrer dores cruciantes”. Por este motivo, renunciou em 30 de abril de 1904 e viajou, em maio, para a Europa. Operado com sucesso em Paris, viaja por toda a França e conhece, ainda, a Inglaterra, a Bélgica, a Alemanha, a Itália e Portugal. Volta em 1905 e é recebido em São Paulo com estrondosa consagração popular.
O seu nome foi, então, lembrado como candidato à sucessão de Francisco de Paula Rodrigues Alves na presidência da República. E ele responde: “Eu não sou candidato a cousa alguma. Nunca, em toda a minha vida, o fui. Fizeram-me candidato. Estava na Europa cuidando da saúde e não pensava, absolutamente, na sucessão presidencial. Se o partido adotou a minha candidatura, eu vivo com o meu partido”.
E, coerente consigo mesmo, renuncia a essa candidatura em agosto de 1905, afirmando que “não podia consentir se pusesse como obra de ambição, o que somente era do patriotismo e amor”.
Ainda em 1905, viajou novamente para a Europa, desta vez para tratamento da saúde de pessoa da família. No Velho Mundo, o seu único olho bom também adoece, e ele volta ao Brasil completamente cego. Mesmo assim, quando, em 1909, foi lançada a candidatura do marechal Hermes Rodrigues da Fonseca à sucessão de Affonso Augusto Moreira Penna, seu nome volta a ser lembrado, na famosa carta em que Rui Barbosa condena a candidatura militarista.
Mas, o nome que empolga o antimilitarismo de então é o do próprio Rui Barbosa, a cuja campanha Bernardino de Campos se entrega de corpo e alma, como se ela fosse o seu canto de cisne.
Mesmo cego, foi aclamado presidente de honra da grande convenção do Partido Republicano Paulista, por proposta de Pedro Moacir, em 22 de agosto de 1909, quando a candidatura de Rui Barbosa foi oficializada.
Em março de 1914, embarca mais uma vez para a Europa, a fim de acompanhar os estudos dos filhos e o tratamento de sua mulher.
A Primeira Guerra Mundial o surpreendeu na Alemanha, quando se dirigia a uma estação de águas. Passou, então, por todos os vexames a que ficam expostos os estrangeiros em território conflagrado.
O regresso ao Brasil foi, então, uma aventura, numa travessia perigosa do Atlântico, infestado de submarinos alemães.
Em 14 de outubro de 1914, desembarca no Porto de Santos e volta a exercer a mesma influência política, frequentando o partido que ajudou a fundar e sendo ouvido por todos com a maior consideração.
Encerrou sua carreira política, como senador estadual. Recebeu o título de “General Honorário do Exército Brasileiro”.
Faleceu no dia 18 de janeiro de 1915.
Os seus últimos momentos foram assim descritos por Cândido Mota Filho:
“O automóvel fechado que o leva dá voltas pelo centro, dificultosamente, em virtude do movimento, que era intenso. Bernardino de Campos tem a feição transtornada.
O secretário, que o acompanha, percebe a extensão do seu sofrimento. Ao passar o carro pelo Largo de São Francisco, bem em frente à Academia de Direito, Bernardino de Campos tem um estremecimento brusco e deixa cair a cabeça sobre o peito. Estava morto. O relógio da Faculdade, que ele amara tanto, acusava 15 horas.
O automóvel vai mais depressa em procura de socorro médico e chega ao escritório do Dr. Murtinho Nobre. Não adianta mais nada”.